quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CÍRCULO VICIOSO

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— "Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
"Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— "Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!
"Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— "Mísera! tivesse eu aquela enorme, àquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!
"Mas o sol, inclinando a rútila capela:

— "Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"
(Machado de Assis.)

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